terça-feira, 28 de agosto de 2012

Por que o brasileiro está endividado e o que podemos fazer?

Um dos grandes temas eleitorais que marcou o governo Lula e segue forte com sua sucessora (lembrando que estamos em época de campanha de eleições municipais!) foi o fortalecimento da classe média. O poder de compra da população aumentou e consecutivamente o comércio aqueceu, mirando agora não apenas os mais ricos, mas também a chamada "classe média emergente".

Precisamos ficar alertas, entretanto, porque esse maior poder de compra não necessariamente se dá porque os salários aumentaram, as condições sociais melhoraram e a renda foi melhor distribuída. Grande parte desse novo cenário brasileiro aconteceu porque especialmente na última década o crédito está mais acessível, ou seja, ficou mais fácil tomar dinheiro emprestado, financiar carros, abrir crediários...

Logo, esse crescimento da atividade econômica brasileira dos últimos anos foi baseado, em grande parte, em um comportamento não sustentável. É fato: as pessoas compraram mais, mas, para isso, acabaram se endividando muito mais. Os efeitos dessa "conquista" que faz vários políticos encherem a boca nas campanhas eleitorais têm se mostrado evidentes especialmente nos últimos anos.

Um exemplo está hoje nesta matéria do jornal Folha de S.Paulo: Percentual de famílias com dívidas tem 3ª alta e chega a 59,8%. O levantamento considera as dívidas de cheque pré-datado, cartão de crédito, carnê de loja, empréstimo pessoal, prestação de carro e seguros, despesas básicas da tal da classe média emergente.

E para comprovar como esse tema está, sim, entre as principais preocupações do governo, basta lembrar a campanha recente, iniciada pelos bancos públicos (Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil), de corte de juros de vários produtos bancários. O movimento acabou sendo, inclusive, acompanhado pelos bancos privados, preocupados com a concorrência, mas também pressionados pelo Ministério da Fazenda.

As dívidas são uma dura realidade de grande parte dos brasileiros nos dias de hoje. Reverter essa situação não é uma tarefa fácil, exige muita paciência e disciplina, mas não é impossível. Veja algumas dicas:


  1. O primeiro passo é, sem medo, colocar na ponta do lápis a soma de TODAS as dívidas acumuladas (cartão de crédito, empréstimo pessoal, crediários) da família;
  2. Checar as taxas de juros de cada uma dessas dívidas. Entre os grandes bancos privados, os juros do cheque especial chegam a 10% ao mês, ou 220% ao ano. Isso significa que se sua conta ficar no negativo em R$ 1.000,00 hoje, daqui a um ano, você deverá ao banco R$ 2.200,00. Mais que o dobro da dívida inicial;
  3. Em seguida, contatar as instituições financeiras e checar qual o valor total da dívida se ela fosse quitada à vista hoje (há uma elevada taxa de juros embutida nos empréstimos, por conta de o pagamento ter ser adiado e não realizado na data da compra);
  4. Fazer uma lista com os gastos mensais da família (alimentação, escola, saúde), como se não houvesse dívidas, desconsiderando todas as parcelas a serem pagas. Checar quanto do orçamento mensal sobraria para o pagamento das dívidas. Por exemplo, uma família que ganhe R$ 4.000,00 e gaste R$ 3.000,00 poderia assumir uma parcela máxima de R$ 1.000,00 para quitar suas dívidas acumuladas;
  5. Pesquisar em diversos bancos as taxas de empréstimos pessoais de juros menores, como o crédito consignado (descontado diretamente do salário). Entre os bancos estatais, as taxas de juro do crédito consignado são de a partir de menos de 1,5% ao mês. A ideia aqui é fazer um único financiamento de TODAS as dívidas acumuladas até hoje (por isso é importante saber a somatória), pagando juros bem menores. ATENÇÃO: O mercado de crédito bancário está muito favorável para o consumidor negociar nos dias de hoje, justamente por conta desse estímulo do governo para a queda dos juros. Já é possível, inclusive, "levar" suas dívidas de um banco para outro que ofereça taxas de juros menores. Fique atento e não tenha medo de pechinchar!
  6. Depois de encontrar a melhor oferta entre os bancos, escolher um período para pagar (o prazo para pagar os empréstimos bancários também aumentou, em alguns casos para até 30 anos) que permita que as parcelas mensais caibam dentro do seu orçamento, conforme apontado no item 4;
  7. Por último e MAIS IMPORTANTE: conter os gastos. Com as dívidas renegociadas, a família pode respirar mais aliviada, mas deve viver em maior economia até as dívidas serem quitadas, para que a situação não saia do controle novamente;
  8. Muitas vezes por conta dos atrasos do pagamento das dívidas, as instituições enviam o nome do devedor para o SPC. Apesar da dor de cabeça (e do telefone que não vai parar de tocar por conta das empresas contratadas para a cobrança), as condições de renegociação de dívidas podem ser muito mais favoráveis. Em alguns casos, as dívidas podem cair pela metade, por conta do abatimento de boa parte dos juros, muitas vezes abusivos.
Não existe mágica. A melhor regra para se possuir uma vida financeira saudável é o planejamento financeiro. Isso, basicamente, significa juntar antes o dinheiro para depois comprar. Obviamente, para a compra de uma casa, o financiamento é bem vindo, mas uma decisão como essa, que comprometerá o orçamento por um longo período de tempo, deve ser muito bem pensada e avaliada.

Para nós, pobres mortais da classe média, a compra de um bem, na maior parte das vezes, deve implicar uma renúncia, ou várias, de outros bens no futuro. Por isso, é importante a participação de toda a família na tomada de decisões financeiras. Afinal, o que é combinado e ponderado antes, não deixa margem para questionamentos e cobranças posteriores. Vale para o dinheiro, vale para a vida.

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